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    A maioria das pessoas ainda não ouviu falar do Cerrado, e isso é um problema

    Durante meses, os incêndios que assolaram a Amazônia fizeram manchetes de primeira página em todo o mundo, e com razão. A icônica floresta tropical armazena milhões de toneladas de dióxido de carbono – sua queima significa um clima menos estável em toda a Terra.

    Os incêndios também devastaram outra parte da América do Sul, mas a cobertura desta catástrofe foi escassa.

    No centro do Brasil (e com pequenas porções na Bolívia e Paraguai) estão 200 milhões de hectares de savana tropical, conhecida como o Cerrado. Os primeiros colonos do Cerrado o consideravam um deserto estéril, mas isso estava longe de ser uma verdade. Esta região é considerada a savana tropical mais biodiversa do planeta, com 5% das espécies do mundo. E, assim como a Amazônia, o Cerrado detém uma quantidade criticamente importante de carbono.

    O equívoco sobre a importância do Cerrado talvez se deva, em parte, ao local onde seu carbono é armazenado. O Cerrado passa por uma longa estação seca a cada ano; árvores e plantas se adaptaram, crescendo para baixo em vez de para cima. Cerca de 70% da biomassa do Cerrado é subterrânea.

    “Para a maioria dos brasileiros, o Cerrado é a floresta ‘feia’, pois tem uma longa estação seca e a maioria das árvores não alcança muita altura, como na Amazônia”, disse Michael Becker, líder da equipe de implementação regional do CEPF. É preciso considerar também que as dimensões do Cerrado são muito difíceis de serem compreendidas”. Considerando um eixo norte-sul, ele se espalha além da distância entre Chicago e Monterrey, México, e tem muitas paisagens diferentes”.

    Vivem dentro dos variados ecossistemas do Cerrado cerca de 5 milhões de pessoas, a saber, povos indígenas, comunidades, povos tradicionais e produtores familiares. Eles dependem dos recursos naturais da região para o seu sustento. A importância deste hotspot de biodiversidade não se restringe, no entanto, às suas fronteiras. Rios e chuvas dentro do Cerrado estão conectados à quase todo Brasil – levando água à agricultura, energia hidrelétrica e consumo humano.

    O segundo maior reservatório subterrâneo de água do mundo – o Aquífero Guarani – assim como o maior pântano do mundo – o Pantanal – dependem da água que flui do Cerrado.

    Sabendo de tudo isso, é alarmante saber que a destruição do Cerrado já está encaminhada: Cerca de 50% do hotspot foi desmatado – principalmente para a agricultura em larga escala – e uma grande parte do que resta já sofreu algum tipo de interferência. Tudo isso, antes dos recentes incêndios que varreram a região.

    Há, no entanto, medidas positivas sendo tomadas para proteger este lugar criticamente importante:

    • A indústria cafeeira brasileira estava sofrendo um duro golpe no hotspot, por isso, o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (IMAFLORA) co-fundador do Cerrado Consórcio das Águas, iniciativa que visa tornar a produção de café mais sustentável, está promovendo no município de Patrocínio um esquema de pagamento por serviços ambientais (PSA), com planos de replicação em outras partes do Cerrado, caso seja bem sucedido.
    • A palmeira buriti é encontrada em abundância nas Veredas do Cerrado e tem grande potencial de geração de renda. No entanto, ela pode ser superexplorada, por isso, a Cooperativa dos Agricultores Familiares e Agroextrativistas Grande Sertão, parceira do CEPF Cerrado e Instituto Internacional de Educação do Brasil, oferece capacitações aos agricultores em práticas de colheita sustentável e técnicas de processamento eficientes. Até o momento, mais de 400 pessoas receberam treinamento e a renda paga aos agricultores tem aumentado.
    • A versão beta da Plataforma de Conhecimento do Cerrado entrou recentemente no ar. Criada pelo Laboratório de Processamento e Geoprocessamento de Imagens (LAPIG/UFG), e financiada pelo CEPF Cerrado, a plataforma consolida o conhecimento geoespacial e censitário sobre a região, fornecendo aos conservacionistas, ao governo e a sociedade civil dados cruciais para ajudá-los a tomar decisões bem informadas.
    • Com a ajuda de um subsídio do CEPF Cerrado, o povo Kalunga – comunidade quilombola do estado de Goiás – está usando tecnologia para mapear a área onde vivem, capacitando-os melhor para defender suas terras e seu modo de vida tradicional.
    • A Funatura, outro parceiro financiado pelo CEPF Cerrado, está trabalhando para estabelecer 50 Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) no Cerrado, através do projeto Reservas Privadas no Cerrado, que utiliza diversas abordagens, inclusive mostrando aos proprietários de terras o potencial inexplorado do ecoturismo.
    • Esforços como estes são encorajadores, mas o caminho para um Cerrado saudável e próspero será longo.
      “Com metade do Cerrado ainda preservado, este hotspot pode ser um excelente estudo de caso, provando que conservação, direitos sociais e produção agrícola podem coexistir e compartilhar os benefícios da natureza”, disse Becker. “O CEPF está trabalhando para esse objetivo”.

    Saiba mais sobre os investimento do CEPF no hotspot de biodiversidade do Cerrado.

    Leia a versão original da matéria, que está disponível em inglês, no site do CEPF.

    SOBRE O CEPF CERRADO

    Em 2013, o Conselho de Doadores do CEPF selecionou o Cerrado como um dos hotspots prioritários e 8 milhões de dólares foram alocados para investimentos em projetos no período de 2016 a 2021. Entre os anos de 2016 e 2019, o CEPF Cerrado realizou três chamadas para apoio a projetos no Cerrado. Atualmente, o Fundo conta com 55 projetos, divididos em Grandes e Pequenos Projetos.

    No Brasil, o CEPF conta com a atuação do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), como a Equipe de Implementação Regional. O IEB é instituição brasileira do terceiro setor dedicada a formar e capacitar pessoas, bem como fortalecer organizações nas áreas de manejo dos recursos naturais, gestão ambiental e territorial e outros temas relacionados à sustentabilidade. O IEB atua em rede, busca parcerias e promove situações de interação e intercâmbio entre organizações da sociedade civil, associações comunitárias, instâncias de governo e do setor privado. Para saber mais sobre a atuação do IEB, visite: http://www.iieb.org.br/

    (Reportagem de Marsea Nelson, gerente sênior de comunicação do CEPF)

    Publicado em 22/04/2020

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